A INFORMAÇÃO A SERVIÇO DO CONHECIMENTO

sábado, 17 de setembro de 2011

Ensino de Línguas para crianças

Ensino de Línguas para crianças

Autor: Izabel Eliza Moura da Silva

A IDADE CRÍTICA

Parece não haver dúvida de que existe uma idade crítica (como propõe Lennenberg), a partir da qual o aprendizado começa a ficar mais difícil e o teto começa a baixar. Este período parece situar-se entre os 12 e os 14 anos, podendo, entretanto variar muito conforme a pessoa e, principalmente, conforme as características do ambiente lingüístico em que o aprendizado ocorre. As limitações que começam a se manifestar a partir da puberdade são fundamentalmente de pronúncia, como mostra o gráfico ao lado.

O estudo dos diferentes fatores que afetam o desenvolvimento cognitivo do ser humano pode ajudar a explicar o fenômeno da idade crítica. Os principais fatores são:

  • Fatores biológicos
  • Fatores cognitivos
  • Fatores de ordem afetiva
  • O ambiente e o input lingüístico

No cérebro de uma criança os dois hemisférios estão mais interligados do que no cérebro de um adulto, correspondendo esta interligação ao período de aprendizado máximo. A assimilação da língua ocorreria via hemisfério direito para ser sedimentada no hemisfério esquerdo como habilidade permanente. Portanto, o desempenho superior das crianças estaria relacionado à maior interação entre os dois hemisférios cerebrais.

O adulto monolíngüe, por já possuir uma matriz fonológica sedimentada, se caracteriza por uma sensibilidade auditiva amortecida, treinada a perceber e produzir apenas os fonemas do sistema de sua língua materna. A criança, por sua vez, ainda no início de seu desenvolvimento cognitivo, com filtros menos desenvolvidos e hábitos menos enraizados, mantém a habilidade de expandir sua matriz fonológica, podendo adquirir um sistema enriquecido por fonemas de línguas estrangeiras com as quais vier a ter contato.

AS DUAS HIPÓTESES MAIS IMPORTANTES DA TEORIA DE KRASHEN, E SUA INTERRELAÇÃO

A hipótese acquisition-learning e a hipótese monitor representam a essência da teoria de Krashen.

De acordo com sua teoria, acquisition é responsável pelo entendimento e pela capacidade de comunicação criativa: habilidades desenvolvidas subconscientemente. Isto ocorre através da familiarização com a característica fonética da língua, sua estruturação de frases, seu vocabulário, tudo decorrente de situações reais, bem como pela descoberta e assimilação de diferenças culturais e pela aceitação e adaptação à nova cultura.

Learning depende de esforço intelectual e procura produzir conhecimento consciente a respeito da estrutura da língua e de suas irregularidades, e preconiza a memorização de vocabulário fora de situações reais. Este conhecimento atua na função de monitoramento da fala. Entretanto, o efeito deste monitoramento sobre a performance da pessoa, depende muito do perfil psicológico de cada um.

A expressão "aprendizado de línguas" abrange dois conceitos claramente distintos, porém raramente compreendidos. Um deles é o de receber informações a respeito da língua, transformá-las em conhecimento através de esforço intelectual e acumular este conhecimento pelo exercício da memória. O outro refere-se ao desenvolvimento da habilidade funcional de interagir com estrangeiros, entendendo e falando sua língua. O primeiro conceito é denominado em inglês de language learning, enquanto que para o segundo, usa-se o termo language acquisition, sendo que um não é decorrência natural do outro.

LANGUAGE ACQUISITION (ASSIMILAÇÃO)

Language acquisition refere-se ao processo de assimilação natural, intuitivo, subconsciente, fruto de interação em situações reais de convívio humano, em que o aprendiz participa como sujeito ativo. É semelhante ao processo de assimilação da língua materna pelas crianças; processo este que produz habilidade prático-funcional sobre a língua falada e não conhecimento teórico; desenvolve familiaridade com a característica fonética da língua, sua estruturação e seu vocabulário; é responsável pelo entendimento oral, pela capacidade de comunicação criativa, e pela identificação de valores culturais. Ensino e aprendizado são vistos como atividades que ocorrem num plano pessoal-psicológico. Uma abordagem inspirada em acquisition valoriza o ato comunicativo e desenvolve a autoconfiança do aprendiz.

LANGUAGE LEARNING (ESTUDO FORMAL)

O conceito de language learning está ligado à abordagem tradicional ao ensino de línguas, assim como é ainda hoje geralmente praticada nas escolas de ensino médio. A atenção volta-se à língua na sua forma escrita e o objetivo é o entendimento pelo aluno da estrutura e das regras do idioma através de esforço intelectual e de sua capacidade dedutivo-lógica. A forma tem importância igual ou maior do que a comunicação. Ensino e aprendizado são vistos como atividades num plano técnico-didático delimitado por conteúdo. Ensina-se a teoria na ausência da prática. Valoriza-se o correto e reprime-se o incorreto. Há pouco lugar para espontaneidade. O professor assume o papel de autoridade no assunto e a participação do aluno é predominantemente passiva. No caso do inglês ensina-se por exemplo o funcionamento dos modos interrogativo e negativo, verbos irregulares, modais, etc. O aluno aprende a construir frases no perfect tense, mas dificilmente saberá quando usá-lo.

É um processo progressivo e cumulativo, normalmente atrelado a um plano didático predeterminado, que inclui memorização de vocabulário e tem por objetivo proporcionar conhecimento metalinguístico. Ou seja, transmite ao aluno conhecimento a respeito da língua estrangeira, de seu funcionamento e de sua estrutura gramatical com suas irregularidades, de seus contrastes em relação à língua materna, conhecimento este que espera-se venha a se transformar na habilidade prática de entender e falar essa língua. Este esforço de acumular conhecimento torna-se frustrante na razão direta da falta de familiaridade com a língua.

Compreender o funcionamento do idioma como um sistema e conhecer suas irregularidades, depende de familiaridade com o mesmo. Tanto regras como exceções só farão sentido e encontrarão ressonância quando já tivermos desenvolvido um certo controle intuitivo sobre o idioma na sua forma oral; só quando já o tivermos assimilado.

A maioria dos estudos existentes, bem como as experiências de quem observa e acompanha o aprendizado de línguas estrangeiras, evidenciam que quanto menor a idade, mais fácil, mais rápido e mais completo será o aprendizado. Assim como a idade é um fator determinante no aprendizado de uma forma geral, ela também é um fator determinante no grau de eficácia de acquisition e learning. Desconsiderando fatores pessoais como personalidade, motivação, acuidade auditiva, e tomando como amostra o aprendiz normal, poderíamos afirmar que quanto menor a idade, maior a eficácia de acquisition. Learning, por sua vez, parece se mostrar apenas parcialmente eficaz na faixa etária de maturidade intelectual, como procuramos demonstrar no gráfico abaixo.

Krashen finalmente conclui que language acquisition é mais eficaz do que language learning para se alcançar habilidade funcional na língua estrangeira, não apenas na infância. Conclui-se também que o ensino de línguas eficiente não é aquele atrelado a um pacote didático predeterminado nem aquele que utiliza recursos tecnológicos, mas sim aquele que é personalizado, em ambiente bicultural, e que explora as habilidades pessoais do facilitador em construir relacionamentos, criando situações de comunicação real voltadas às áreas de interesse do aluno.

Krashen, Stephen D. Principles and Practice in Second Language Acquisition. Prentice-Hall International, 1987.

Krashen, Stephen D. Second Language Acquisition and Second Language Learning. Prentice-Hall International, 1988.

A IDADE CRÍTICA

Parece não haver dúvida de que existe uma idade crítica (como propõe Lennenberg), a partir da qual o aprendizado começa a ficar mais difícil e o teto começa a baixar. Este período parece situar-se entre os 12 e os 14 anos, podendo, entretanto variar muito conforme a pessoa e, principalmente, conforme as características do ambiente lingüístico em que o aprendizado ocorre. As limitações que começam a se manifestar a partir da puberdade são fundamentalmente de pronúncia, como mostra o gráfico ao lado.

O estudo dos diferentes fatores que afetam o desenvolvimento cognitivo do ser humano pode ajudar a explicar o fenômeno da idade crítica. Os principais fatores são:

  • Fatores biológicos
  • Fatores cognitivos
  • Fatores de ordem afetiva
  • O ambiente e o input lingüístico

No cérebro de uma criança os dois hemisférios estão mais interligados do que no cérebro de um adulto, correspondendo esta interligação ao período de aprendizado máximo. A assimilação da língua ocorreria via hemisfério direito para ser sedimentada no hemisfério esquerdo como habilidade permanente. Portanto, o desempenho superior das crianças estaria relacionado à maior interação entre os dois hemisférios cerebrais.

O adulto monolíngüe, por já possuir uma matriz fonológica sedimentada, se caracteriza por uma sensibilidade auditiva amortecida, treinada a perceber e produzir apenas os fonemas do sistema de sua língua materna. A criança, por sua vez, ainda no início de seu desenvolvimento cognitivo, com filtros menos desenvolvidos e hábitos menos enraizados, mantém a habilidade de expandir sua matriz fonológica, podendo adquirir um sistema enriquecido por fonemas de línguas estrangeiras com as quais vier a ter contato.

AS DUAS HIPÓTESES MAIS IMPORTANTES DA TEORIA DE KRASHEN, E SUA INTERRELAÇÃO

A hipótese acquisition-learning e a hipótese monitor representam a essência da teoria de Krashen.

De acordo com sua teoria, acquisition é responsável pelo entendimento e pela capacidade de comunicação criativa: habilidades desenvolvidas subconscientemente. Isto ocorre através da familiarização com a característica fonética da língua, sua estruturação de frases, seu vocabulário, tudo decorrente de situações reais, bem como pela descoberta e assimilação de diferenças culturais e pela aceitação e adaptação à nova cultura.

Learning depende de esforço intelectual e procura produzir conhecimento consciente a respeito da estrutura da língua e de suas irregularidades, e preconiza a memorização de vocabulário fora de situações reais. Este conhecimento atua na função de monitoramento da fala. Entretanto, o efeito deste monitoramento sobre a performance da pessoa, depende muito do perfil psicológico de cada um.

A expressão "aprendizado de línguas" abrange dois conceitos claramente distintos, porém raramente compreendidos. Um deles é o de receber informações a respeito da língua, transformá-las em conhecimento através de esforço intelectual e acumular este conhecimento pelo exercício da memória. O outro refere-se ao desenvolvimento da habilidade funcional de interagir com estrangeiros, entendendo e falando sua língua. O primeiro conceito é denominado em inglês de language learning, enquanto que para o segundo, usa-se o termo language acquisition, sendo que um não é decorrência natural do outro.

LANGUAGE ACQUISITION (ASSIMILAÇÃO)

Language acquisition refere-se ao processo de assimilação natural, intuitivo, subconsciente, fruto de interação em situações reais de convívio humano, em que o aprendiz participa como sujeito ativo. É semelhante ao processo de assimilação da língua materna pelas crianças; processo este que produz habilidade prático-funcional sobre a língua falada e não conhecimento teórico; desenvolve familiaridade com a característica fonética da língua, sua estruturação e seu vocabulário; é responsável pelo entendimento oral, pela capacidade de comunicação criativa, e pela identificação de valores culturais. Ensino e aprendizado são vistos como atividades que ocorrem num plano pessoal-psicológico. Uma abordagem inspirada em acquisition valoriza o ato comunicativo e desenvolve a autoconfiança do aprendiz.

LANGUAGE LEARNING (ESTUDO FORMAL)

O conceito de language learning está ligado à abordagem tradicional ao ensino de línguas, assim como é ainda hoje geralmente praticada nas escolas de ensino médio. A atenção volta-se à língua na sua forma escrita e o objetivo é o entendimento pelo aluno da estrutura e das regras do idioma através de esforço intelectual e de sua capacidade dedutivo-lógica. A forma tem importância igual ou maior do que a comunicação. Ensino e aprendizado são vistos como atividades num plano técnico-didático delimitado por conteúdo. Ensina-se a teoria na ausência da prática. Valoriza-se o correto e reprime-se o incorreto. Há pouco lugar para espontaneidade. O professor assume o papel de autoridade no assunto e a participação do aluno é predominantemente passiva. No caso do inglês ensina-se por exemplo o funcionamento dos modos interrogativo e negativo, verbos irregulares, modais, etc. O aluno aprende a construir frases no perfect tense, mas dificilmente saberá quando usá-lo.

É um processo progressivo e cumulativo, normalmente atrelado a um plano didático predeterminado, que inclui memorização de vocabulário e tem por objetivo proporcionar conhecimento metalinguístico. Ou seja, transmite ao aluno conhecimento a respeito da língua estrangeira, de seu funcionamento e de sua estrutura gramatical com suas irregularidades, de seus contrastes em relação à língua materna, conhecimento este que espera-se venha a se transformar na habilidade prática de entender e falar essa língua. Este esforço de acumular conhecimento torna-se frustrante na razão direta da falta de familiaridade com a língua.

Compreender o funcionamento do idioma como um sistema e conhecer suas irregularidades, depende de familiaridade com o mesmo. Tanto regras como exceções só farão sentido e encontrarão ressonância quando já tivermos desenvolvido um certo controle intuitivo sobre o idioma na sua forma oral; só quando já o tivermos assimilado.

A maioria dos estudos existentes, bem como as experiências de quem observa e acompanha o aprendizado de línguas estrangeiras, evidenciam que quanto menor a idade, mais fácil, mais rápido e mais completo será o aprendizado. Assim como a idade é um fator determinante no aprendizado de uma forma geral, ela também é um fator determinante no grau de eficácia de acquisition e learning. Desconsiderando fatores pessoais como personalidade, motivação, acuidade auditiva, e tomando como amostra o aprendiz normal, poderíamos afirmar que quanto menor a idade, maior a eficácia de acquisition. Learning, por sua vez, parece se mostrar apenas parcialmente eficaz na faixa etária de maturidade intelectual, como procuramos demonstrar no gráfico abaixo.

Krashen finalmente conclui que language acquisition é mais eficaz do que language learning para se alcançar habilidade funcional na língua estrangeira, não apenas na infância. Conclui-se também que o ensino de línguas eficiente não é aquele atrelado a um pacote didático predeterminado nem aquele que utiliza recursos tecnológicos, mas sim aquele que é personalizado, em ambiente bicultural, e que explora as habilidades pessoais do facilitador em construir relacionamentos, criando situações de comunicação real voltadas às áreas de interesse do aluno.

Krashen, Stephen D. Principles and Practice in Second Language Acquisition. Prentice-Hall International, 1987.

Krashen, Stephen D. Second Language Acquisition and Second Language Learning. Prentice-Hall International, 1988.

/linguas-artigos/ensino-de-linguas-para-criancas-5194072.html

Perfil do Autor

Professora de Inglês, Português e respectivas literaturas. Atuante no magistério há 22 anos.

Atuante am todas os níveis de educação básica e fundamental.

Consultora de idiomas para empresas.

O Poder da Linguagem

Um comentário:

  1. Este texto é cópia sem citação da fonte. Configura plágio e infringe a lei de direitos autorais. O original é do Prof. Ricardo E. Schutz e encontra-se em: https://www.sk.com.br/sk-apre2.html

    ResponderExcluir