NUM-SE-PODE
Lenda conterrânea do Cabeça-de-Cuia, pastando as mesmas paragens - Teresina, Poti Velho e imediações periféricas. Seu ponto de referência mesmo era a cidade - Teresina. Durante muitos e muitos anos, foi o espectro mais assÃduo e comentado na Capital de nosso Estado.
A Não-Se-Pode freqüentemente aparecia aos que perambulavam pelas ruas altas horas da noite. Muitas pessoas encontraram-se com ela na caladas da noite. Que seja de nosso conhecimento, não temos notÃcia de que ela alguma vez aparecera a alguém fora da cidade, pois, a antiga vila do Poti Velho é hoje apenas a chamada Chapada do Corisco, -
Não-Se-Pode começou a fazer visagens a cristãos quando já Teresina era Capital do Estado do PiauÃ.
Naqueles tempos, as ruas eram iluminadas a gás - lampiões. Pois bem. Soldados de ronda que patrulhavam a cidade, boêmios e demais noctâmbulos que perambulavam às horas-mortas da noite, encontraram-se com ela. Uma mulher alta, magra, rosto comprido e olheiras fundas. Assim como se um aspecto de sofredora, torturada. Com um tom de ares de tristeza nas faces, como se um ente por demais saturado de sofrimentos. Sempre trajando vestido branco, bem alvo mesmo, e tão comprido, varria o chão por onde passava.
Aproximava-se do indivÃduo e pedia-lhe um cigarro. Se este perguntava-lhe o nome, ela, numa voz triste e cavernosa, bem compassada e em tonalidade de cansaço, separando bem as sÃlabas;
- Não se pode! Não se pode! Não se pode!...
AÃ saÃa caminhando, lentamente, e repetindo:
Não se pode! Não se pode! Não se pode!...
Às vezes não dava um passo. Encarava o sujeito, com aqueles seus olhos tristes de cabra-morta, dizendo
- Não se pode! Não se pode! Não se pode!...
E dali mesmo desaparecia-se. Aà a pessoa ficava imóvel, sem a menor ação, e ouvindo aquela voz como se vinda dos ares:
Não se pode! Não se pode! Não se pode!...
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